Acompanhando a equipe desde 2007, Leo já foi expulso duas vezes de campo e, ano passado, por pouco não lesiona o lateral Wellington Saci
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O leão é um dos animais mais comuns do meio futebolístico. Clubes como o Avaí, Vitória, Remo, Fortaleza, Olympiacos (Grécia) e Bayer Leverkusen (Alemanha) buscam refletir em campo a força e a ostentação atribuída ao ‘rei da selva’. Porém, com tanta juba no futebol, não há nenhum como o Leão da Ilha do Retiro. Pelo menos é o que garante Anderson Silva, o homem que encarna a mascote Leo.
Anderson Silva é ator e cobrador de ônibus, mas em dia de jogos ele é o homem que veste oito peças, a maioria de pelúcia, e se transforma em Leo, responsável por agitar a criançada e seus pais a cada partida do Sport. Ele é figura presente no gramado da Ilha do Retiro desde 2007.
- Chego ao estádio uma hora antes da partida. Daí começa a minha maratona de fotos com um bocado de criança, todas querendo me abraçar, tocar, brincar comigo. Às vezes são tão pequenos que são os pais que insistem. No meio do jogo, tem torcedor que tira umas dez fotografias, o menino enjoa de mim, mas o pai continua chamando. Tem até jogadores que trazem os filhos e toda vez posam comigo. Os zagueiros Tobi e Montoya devem ter uma coleção em casa - brincou Anderson Silva.
Com 31 anos de idade, Silva é ator de uma companhia de teatro de Camaragibe, na Região Metropolitana do Recife. Tem em seu currículo personagens infantis como shrek, palhaço de trânsito e monstro de parque de diversões. Nada comparado ao desafio de encenar um símbolo de devotamento.
- O responsável pela rádio da Ilha do Retiro, Júnior Viana, namorava com a minha prima. Ele teve a ideia de fazer uma peça sobre o centenário do Sport, em 2005. Fizemos em 2006 e a montagem foi um sucesso em Camaragibe. Daí ele propôs trazer a fantasia para o estádio como teste e aqui estou - explicou.
A roupa que Silva veste é inspirada nos traços do chargista Humberto Araújo, desenho que imortalizou a feição da mascote, mas a origem do Leão do Sport é bem mais longínqua do que a peça de Camaragibe.
Sport adotou o Leão em 1919
Em 1919, o Sport fez uma excursão à Belém para enfrentar um combinado do Remo e do Paysandu. A viagem foi marcada por grande expectativa, pois na época, o Pará era tido como um centro futebolístico mais forte do que Pernambuco. Os pernambucanos empataram o primeiro jogo por 3 a 3 e derrotaram o combinado no segundo confronto por 3 a 2, conquistando o troféu Leão do Norte. Inconformados, os paraenses tentaram recuperar a taça à força, o que danificou a peça. A situação de resistência foi considerada heroica pelos rubro-negros, que adotaram o Leão como símbolo do clube, numa demonstração de força e raça, além de uma pitada de provocação.
Fico emocionado quando estou vestindo essa roupa"
Anderson Silva
- Fico muito emocionado quando estou vestindo essa roupa. Agito a torcida e ela corresponde. Fico mais perto da arquibancada do placar, em cima do escudo do Sport, pois o pessoal lá é mais parado. No lado oposto, tem a organizada fazendo a festa, instigando o estádio e eu sirvo como a continuação, o propagador dessa animação para o outro lado da Ilha do Retiro. Faço a bateria da organizada chegar até o torcedor mais distante - descreveu Anderson Silva.
Como ator, Anderson Silva tem a técnica de analisar o comportamento do personagem para poder encenar com eficiência. E como animador de torcida, ele foi para internet estudar mascotes do mundo todo, prestando atenção nos movimentos e nas coreografias. Para quem não sabia, as dancinhas e o balanço de braço de Leo são frutos de algo estudado.
- Via que a maioria das mascotes ficava parada em cima dos escudos dos clubes, no máximo mexia os braços durante as partidas. Como é que sou um agitador de torcida se só fico parado? Comecei a procurar nos vídeos como se comportavam alguns animadores interessantes. Peguei um pouco do leão do Lyon (França), do hulk do Imperatriz-MA, da baleia do Santos e do galo do Atlético Mineiro. Esses eram os mais agitados, que realmente fazem a diferença, misturei tudo e fiz Leo - revelou.
Leo acumula algumas expulsões e quase lesionou um atleta do Sport
Por essa agitação, Anderson Silva arrumou algumas confusões para Leo. Na Copa do Brasil de 2008, o leão ficava dançando e provocando os goleiros adversários, atrás do gol. Além disso pulava exageradamente em cada lance positivo do Sport, fosse um ataque ou alguma defesa de Magrão. A arbitragem o expulsou de campo e ficou determinado a proibição da mascote naquela edição do torneio.
- É que a arbitragem não estava acostumada a esse tipo de coisa. Como disse, as mascotes eram mais contidas e ficaram chocados quando viram o leão participando da partida. Hoje eles entendem e não mexem mais comigo, me deixam trabalhar, só que por causa disso, nem levantei a taça da Copa do Brasil e nem me deixaram participar da festa do título - lamentou, lembrando a conquista mais importante do Sport nos últimos anos.
Na mesma temporada, o leão foi expulso no primeiro tempo da vitória do Sport sobre o Fluminense por 2 a 1, pelo Brasileiro da Série A. O motivo foi o mesmo, provocação. Desta vez com os jogadores tricolores. Lição aprendida, Anderson Silva nunca mais foi expulso, mas coleciona causos, como a que quase machuca o lateral-esquerdo Wellington Saci numa comemoração (confira no vídeo).
- No Pernambucano do ano passado, Wellington Saci abriu o placar contra o Porto e saiu correndo para comemorar o gol. Ele pulou as placas publicitárias e foi para cima de mim, saltando para eu agarrá-lo. Só que havia chovido no dia e o concreto do escudo estava escorregadio. Não deu outra, quando ele veio, derrapei e não o segurei. Saci caiu de costas na quina do escudo. Tive um medo tremendo de ele ter quebrado a coluna ou algo do tipo . Ainda bem que não foi nada - lembrou, o desastrado leão.
Saci foi atendido por alguns minutos, causando preocupação no estádio, mas voltou e participou da vitória leonina por 3 a 1, só não pôde comemorar seu gol. Apesar do susto que causou, essa não foi a maior derrapagem de Leo.
Flagrado em boate gay, mascote virou alvo de gozação para rivais
Ainda em 2011, ele foi a estrela das redes sociais ao aparecer numa foto em frente a uma boate gay do Recife, abrindo um campo fértil para as provocações dos torcedores do Náutico e santa Cruz.
Flagrado em boate gay, mascote virou alvo de gozação para rivais
Ainda em 2011, ele foi a estrela das redes sociais ao aparecer numa foto em frente a uma boate gay do Recife, abrindo um campo fértil para as provocações dos torcedores do Náutico e santa Cruz.
- Estava autorizado pelo clube para participar de festas como mascote oficial e assim fui para essa, que era de uma menina de 10 anos, filha de um advogado e louca por boate. Eu tinha que brincar com a criança e entregar os presentes para a aniversariante. O espaço estava alugado e não sabia que aquela casa de festa era GLS. O engraçado é que ouvia uns cazá-cazá, mas tinha mais provocação de alvirrubros e tricolores que passavam de carro rindo. Achava que só era rivalidade. Quando acordei no outro dia, recebi uma enxurrada de ligações reclamando da minha foto, inclusive Humberto Araújo que me acordou me dando um esporro - lembrou Anderson Silva.
Achei a maior besteira, nada demais. Foi uma atitude preconceituosa das pessoas. Qual foi o problema em aparecer na frente da boate? - continuou. Depois disso, Leo ficou proibido de participar de qualquer evento que não fosse oficializado pelo Sport.
Anderson Silva ganha R$ 200 por jogo do Sport. Faz por hobby e por amor ao clube, mas está visando um futuro melhor e já se matriculou num curso de marketing, que começa no meio do ano. Para custear a faculdade, conseguiu emprego numa empresa de ônibus, na função de cobrador.
- Um amigo me indicou para a empresa de ônibus e quando fui para entrevista, ele tinha dito ao gerente que eu fazia a mascote do Sport. Só que tinha um detalhe, o gerente é rubro-negro fanático. Começou a conversa e não foi falado nada sobre a empresa, meu atual chefe só falava do Sport e eu sem entender nada. Só depois de 40 minutos é que eu comecei a saber qual seria o meu trabalho - disse Silva.
Anderson trabalha na linha Camaragibe/Conde da Boa Vista e às vezes é reconhecido por passageiros. Sua identidade virou pública depois que o atacante Ciro foi comemorar um gol tirando a máscara do leão. E pelo menos uma vez por semana o torcedor pode encontrar Leo na rotina do clube, mas como mascote retalhada, posto ao sol para secar a pelúcia depois da lavagem. A roupa é quente e chega a tirar três quilos dele, que tem uma alimentação reforçada e toma muita água para aguentar o forno de 90 minutos dentro da vestimenta.
- Faço esquema na empresa para mudarem meus horários quando estou na escala em dia de jogo do Sport. Quero uma vida melhor, por isso que vou fazer faculdade, pois ser ator não dá dinheiro, mas faço o leão com muito amor. É um prazer que tenho em estar todos os jogos na Ilha do Retiro agitando a galera - finalizou o ator.
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